“Não tenho nada a esconder, então não me preocupo com privacidade na internet, nas redes sociais.”
Você já ouviu essa frase? Ou já falou algo parecido?
Para entender mais sobre como podemos voltar nossa atenção para nossos cuidados na internet, conversamos com a Amarela que, por motivos de privacidade, usa esse codinome. Ela atua como facilitadora de processos de aprendizagem em cuidados digitais, é gestora de projetos e pesquisadora com foco em direito à privacidade e anti-vigilância.
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Ela também é uma das organizadoras da CriptoFunk (@criptofunk), evento que acontece no próximo sábado (14/09) na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, para discutir privacidade, criptografia, cuidados físicos e digitais. A iniciativa reúne diversos integrantes do @data_labe, da Escola de Ativismo, do @intervozes e da @codingrights, com apoio do Observatório de Favelas.
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“Privacidade não significa esconder algo, mas ter a liberdade de escolher o que e com quem compartilhar nossas informações”, diz a Amarela. Nós já fazemos isso diariamente nas nossas vidas, ela diz, quando escolhemos contar uma coisa pra uma amiga e não contar pra outra. Ou quando tratamos um assunto com tons diferentes ao conversar com a família ou os amigos de trabalho. “Mas na internet é mais difícil porque muitas vezes sequer sabemos que estamos compartilhando alguma informação, muito menos com quem.”
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Ela ressalta que, só de acessar um site, há uma infinidade de informações sobre nossos dispositivos e nossos hábitos que compartilhamos sem nenhum aviso, sem nenhuma autorização. “E essas informações não são usadas apenas para nos mostrar propaganda, como algumas pessoas pensam. Elas podem ser utilizadas para nos manipular, ao ponto de serem decisivas para as eleições de um país, por exemplo. Então privacidade não é uma palavra que caminha só, ela está sempre relacionada com outras como democracia e liberdade.”
Top 5 cuidados digitais
Perguntamos a Amarela, facilitadora de processos de aprendizagem em cuidados digitais, quais seriam os principais que todos devíamos tomar ao usar a internet. O tema será debatido na @criptofunk, que acontece no próximo sábado (14/09) no Rio de Janeiro.
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1. Pesquise sobre como funciona a internet:
“Usamos essa rede todos os dias e sabemos pouco sobre como ela funciona. Mas é super importante debater politicamente a infraestrutura da rede. Os monopólios, a geopolítica das rotas dos cabos submarinos, o capitalismo de dados e de vigilância, os modelos de negócio do Vale do Silício. Tudo nos diz respeito. A Internet é política.”
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2. Use senhas:
“E use senhas únicas para cada serviço em que se cadastrar. Construa senhas longas, misturando palavras, de preferência misturando línguas, dialetos, gírias e expressões que não estão no dicionário. Quanto mais aleatória for a combinação de palavras em relação a sua vida, melhor. Não use datas, nome de animais de estimação, ou qualquer coisa que seja uma informação fácil de descobrir sobre você.”
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3. Use dois fatores de autenticação em aplicativos de chat:
“Isso é MUITO importante e vai proteger você contra fraudes, extorsão e exposição de informações sensíveis.”
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4. Configurações e segurança:
Dê uma olhada nas configurações de segurança e privacidade de suas contas de redes sociais.
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5. Use criptografia:
“Criptografia é importante para manter seus dados seguros, ou seja, acessíveis apenas para você. Essa mágica matemática já foi super inacessível, mas hoje em dia é muito fácil de usar. Ela pode ser habilitada em nossos dispositivos móveis (iPhone e Android) e em nossos computadores, pode ser utilizada em pendrives e arquivos (utilizando o programa Veracrypt, por exemplo), e pode ser encontrada e usada em aplicativos de chat como Whatsapp e Signal. Vale lembrar que ter seus dados expostos afeta a sua vida online e offline.”
Para pensar sobre privacidade
por que é interessante que a gente pense sobre privacidade em um contexto em que cada vez mais nossos dados são usados, contabilizados, manipulados? Dá pra gente tentar voltar a uma internet mais múltipla, onde exercíamos múltiplas personas? A Amarela, que atua como facilitadora de processos de aprendizagem em cuidados digitais, responde.
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“Acredito que a privacidade não deve mais ser pensada como uma questão individual. Não se trata de preservar apenas minha individualidade, minhas informações pessoais. O acesso aos meus dados impactam não só a minha vida, mas a de toda a sociedade.” Ou seja, o que está em jogo quando nossa privacidade é violada são os rumos da nossa sociedade, a qualidade de nossa democracia, ela ressalta. “O grande esquema de manipulação envolvendo a empresa Cambridge Analytica deixa isso bastante claro. Um aplicativo para Facebook foi capaz de coletar dados tão importantes (apesar de aparentemente tão desimportantes) de tantas pessoas, que através dele foi possível fazer experimentos psicológicos e mudar/manipular os desejos de votos em contextos como a eleição de Trump e o Brexit.”
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Para entender melhor como isso é/foi possível, ela recomenda o documentário “Privacidade Hackeada”, disponível no Netflix.
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E você? Ficou com vontade de cuidar melhor da sua privacidade nas redes?