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Passamos muitas horas nas redes, rolando a tela e consumindo conteúdo em imagens. Muitas delas são corpos. Diferentes ou parecidos com os nossos, uma coisa é certa: elas afetam nosso olhar para nós mesmos. Por dia são postadas mais de 100 milhões de fotos e vídeos só no Instagram. Se antes o espelho era para onde recorríamos para entender a nossa imagem, hoje nos comparamos a um volume impressionante de outros corpos, vidas e realidades.

A @Converse_Br nos fez um convite: para pensar sobre formas de autocuidado. A marca criou o movimento #1❤, que tem como objetivo incentivar as pessoas a se amarem em primeiro lugar. Logo veio a ideia: como a internet afeta a imagem que temos de nós mesmos?

Então vamos falar da nossa percepção corporal, a partir de como ela é afetada pelo digital? Um estudo realizado pela instituição de saúde Florida House Experience descobriu que 88% das mulheres e 65% dos homens comparam seus corpos às imagens que consomem nas mídias sociais e tradicionais. Nessa comparação, 50% das mulheres e 37% dos homens comparam seus corpos de maneira desfavorável.

Apps e programas de edição de imagem podem contribuir para essa percepção negativa. Imaginamos que ao alterar nossos corpos para esse “padrão ideal’, teremos uma reação mais positiva. Essa desconexão aumenta a distância entre o que sentimos sobre nós mesmos na vida real e o que pensamos em relação a nossas presenças online. ⠀⠀⠀

É hora de repensar a sua internet

Se você segue muitos canais que focam somente na aparência do corpo, talvez seja o momento de dar alguns unfollows e procurar outros assuntos para não virar obsessão.

Já sabemos que os canais que seguimos são capazes de alterar drasticamente nossa visão de mundo. Quando o assunto é a imagem que temos de nós mesmos, não é diferente. Nesse contexto, a internet parece se dividir em duas: de um lado, temos a pressão estética que vem dos inúmeros perfis em que o corpo é o principal assunto. Treino e alimentação se juntam numa espécie de maratona pela “perfeição”, ou ao menos, pela melhor versão de nós mesmos. Do outro lado vemos corpos reais, sem intervenções, que trazem um chamado para uma vida mais real também. E aqui vale uma dica: se o seu feed está repleto de perfis que tentam te convencer a realizar algum procedimento estético ou te fazem acreditar que tem algo errado com o seu corpo, é hora de repensar a sua relação com a internet.

Se movimentar e comer bem deixam de ser metas de uma planilha a ser preenchida sem falhas, mas fazem parte de uma vida mais saudável e prazerosa. Os canais que você escolhe seguir te direcionam para qual desses movimentos?

Dentro do contexto da diversidade dos corpos reais, duas vertentes ganham força. O body positivity (“positividade corporal”, na tradução literal), celebra tudo que é fora do padrão e encontra beleza em corpos múltiplos. Já a neutralidade corporal, do inglês “body neutrality”, não pretende enxergar beleza, apenas encarar o corpo como ele é, e não o que ele aparenta ser. Esse caminho gera identificação porque oferece uma espécie de alívio: é natural não se sentir bonita todo o tempo. Se você já segue pessoas reais e que se sentem satisfeitas com seus corpos, mas ainda não chegou lá, tenha calma e lembre-se que tudo é um processo.

E, no meio desse processo, estamos nós. Com todos os tipos de corpos, cada um tentando cuidar da própria cabeça. Para construir uma relação saudável com nosso corpo, é importante escolher mais ativamente de qual internet você quer fazer parte.

Por um feed mais parecido com a sua vida

Quanto mais tempo passamos olhando a timeline e tirando fotos de nós mesmos, mais podemos ter pensamentos negativos sobre nossos corpos. É o que diz uma revisão sistemática de 20 artigos sobre como as redes sociais impactam nossa imagem corporal, realizada pela Escola de Psicologia da Universidade Flinders, na Austrália.

Quem pensa sobre #ainternetqueagentequer já sabe que tudo depende de como usamos as nossas redes. Nós acreditamos que há sim formas de fazer uma curadoria que te deixe mais feliz em sua própria pele – ou, pelo menos, que te impeça de se sentir pior.

Se você se comparar com celebridades, você pode sim se sentir mal. Mas o mesmo não acontece quando você se compara a alguém que você conhece na vida real (e de quem você conhece mais lados do que aquele exposto online). Segundo outro estudo publicado pelo Centro de Pesquisa de Aparências da Universidade do Oeste da Inglaterra, pessoas que acompanham inspirações fitness tendem a ser mais duras com elas mesmas. Já um estudo feito com 195 mulheres que tinham acesso a perfis de positividade corporal mostrou que esse tipo de conteúdo aumentou a satisfação delas em relação aos seus próprios corpos. Mas também mostrou que esse consumo, se em excesso, pode ter um lado negativo, pois ainda foca na aparência do corpo.

Pra melhorar essa questão, uma sugestão: cuide bem de quem você segue. Tire um tempo para fazer uma curadoria. Se o seu conteúdo estiver muito focado em aparência, adicione mais interesses no seu feed, como paisagens, música, educação, arte, animais fofos. Tudo isso nos ajuda a lembrar que tem muito mais vida e mais assunto pra pensar do que nossa própria aparência. ⠀⠀⠀

Selfie sem filtro, você encara?

Diz pra gente se já aconteceu por aí: você decide tirar uma selfie, abre a câmera frontal, se decepciona e corre para o Instagram ou o Snapchat. Procura um filtro que modifica o seu rosto e, depois de alguns cliques, pronto: receita de sucesso! Rolou uma identificação? Editar nossa própria aparência tem sido cada vez mais corriqueiro. Não é uma surpresa concluir que grande parte de nós estamos estabelecendo um vínculo de dependência com filtros que nos transformam em nossa versão “ideal”.

Se antes queríamos as características inatingíveis das celebridades, agora optamos por nossos próprios rostos digitais turbinados. A princípio parece inofensivo, certo? Mas quadros preocupantes têm acontecido por conta disso e a obsessão por aparência em filtros de app já ganhou até nome: dismorfia do Snapchat. O termo define o comportamento de jovens que recorrem até a cirurgias para ficarem mais parecidos com os filtros que usam em suas selfies. Essa tendência um tanto extrema foi identificada por um grupo de pesquisadores da Universidade de Boston.

“Vivemos em uma era de selfies editadas e padrões de beleza em constante evolução. O advento e a popularidade das mídias sociais baseadas em imagem colocaram o Photoshop e os filtros no arsenal de todos. Alguns toques podem dar à sua selfie uma coroa de flores ou orelhas de cachorro. Um pequeno ajuste pode suavizar a pele e fazer com que os dentes pareçam mais brancos e os olhos e lábios maiores. Um compartilhamento rápido no Instagram, e as curtidas e comentários começam a aparecer. Esses filtros e edições se tornaram a norma, alterando a percepção de beleza das pessoas em todo o mundo”, resume o estudo.

Você consegue postar fotos ou aparecer nos stories sem filtro ou muita edição? Aliás, você sente vontade de aparecer mas encana com alguma parte do seu rosto? Como é a sua relação com filtros e apps?

Por uma internet que não reforce os padrões

Feche os olhos e pense em um grupo de pessoas bonitas. Se a imagem que você criou em sua mente já contempla mais diversidade do que o antigo padrão branco, magro, de cabelos e olhos claros, parte dessa evolução devemos à internet e seus avanços sem precedentes para um mundo com mais representatividade. Ainda assim, quando falamos de tecnologia, corremos o risco de reforçar padrões. Muitos filtros são programados para afinar o nariz ou clarear o tom de pele, por exemplo. O que acontece quando uma mulher negra experimenta esses filtros? Ela é “encaixada” em um padrão que é completamente distinto dela.

Para entender mais, conversamos com Milo Araújo (@milotintas), artista plástica que estuda raça. “O primeiro passo é aprender a reconhecer o que é um reforço de um padrão racista. Esses dias passando pelo Instagram achei uma clínica de estética que oferecia o serviço de ‘correção de cor para lábios escuros’. Nos comentários, ativistas criticando e várias pessoas, pretas e brancas, defendendo o procedimento, alegando que todos podemos fazer o que quisermos com nossos corpos. Em tese, podemos. Mas não me parece justo realizar um desejo introjetado por uma estética colonizadora, que genocida outras estéticas”, diz. “O mesmo vale para filtros. É comum entender traços brancos como aperfeiçoamentos da aparência, mas não são.”

Vários movimentos em prol de uma representação mais diversa e menos estigmatizada foram surgindo nos últimos anos, como bancos de imagens. O TemQueTer @temqueterorg é a primeira plataforma de imagens LGBT+ do país. O Mulheres (In)visíveis criado pela @meiacincodez é a primeira coleção que mostra a cara da mulher brasileira que a comunicação não mostra. Temos ainda o Young, Gifted and Black @younggifted_black, com mulheres negras em lugares de protagonismo.

A internet deve representar o mundo em que vivemos. E, se olharmos com um pouco mais de atenção, já nos damos conta de que a pluralidade é a chave, não é mesmo?

Entender o corpo como potência

“Se a gente ficar achando que nosso corpo é só imagem que a gente vê no espelho, a vivência do corpo fica desancorada. As pessoas às vezes têm os corpos lindos mas não habitam aquele corpo. E é preciso habitar o corpo, viver dentro dele, entender como é essa casa, refinar suas sensações para potencializar a experiência.” – Mariana Camarote, psicóloga.

Somos muito mais do que a imagem que temos do nosso corpo, mas às vezes a internet parece nos afastar desse entendimento. Se houvesse uma balança entre “melhorar o corpo” versus “aproveitar o corpo”, para qual lado a sua penderia?

“A imagem corporal tem a ver com aquilo que o outro enxerga de nós, mas que nem sempre a gente consegue enxergar. Ainda assim, isso é uma parte pequena. Porque o corpo é nossa casa. Não tem separação entre o que sinto, penso e o que se passa no meu corpo. E essa identidade é formada por sensações, pulsação, ritmos biológicos, pela minha relação de troca sensorial com o mundo e como elas são processadas dentro de mim”, afirma a psicóloga Mariana Camarote, que é criadora do @nucleopulso, de práticas de educação somática, e diretora do @bodymindmovement.

Limitar o corpo à imagem externa é perder uma riqueza de vida muito grande. “A potência do corpo é sentir ele, interiorizar, parar de ficar focado no que vem de fora e ver o que acontece dentro.” Quantas vezes a gente faz esse tipo de exercício?

Mariana ressalta que temos um microcosmos dentro do nosso corpo, com células pulsando, sistema nervoso fazendo conexões o tempo inteiro, nossos órgãos funcionando, tudo em uma vastidão de movimentos e ações.

“Quando a gente pode olhar pra dentro e sentir essas possibilidades, a gente tem uma potência muito maior. Se a gente ficar achando que nosso corpo é só imagem que a gente vê no espelho, a vivência do corpo fica desancorada. As pessoas às vezes têm os corpos lindos mas não habitam aquele corpo. E é preciso habitar o corpo, viver dentro dele, entender como é essa casa, refinar suas sensações para potencializar a experiência.”

E aí, você já ouviu o seu corpo hoje? Você segue perfis que exploram o corpo por tudo que ele pode nos proporcionar?

Crie um feed tão diverso quanto o mundo

 A partir do momento que começou a encontrar pessoas como ela na internet, com os mesmos gostos, dificuldades e anseios, a @flaviadurante passou a usar as redes sociais como espaço de troca e de identificação. E, de quebra, fez uma revolução no mercado de moda. Ela é criadora do @popplusbr, feira de moda e cultura plus size que começou com 6 expositores e hoje reúne quase 100 por edição, atraindo um público de 13 mil pessoas. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

“Do mesmo jeito que a internet trouxe uma proximidade para o bem, também trouxe uma maior pressão. O corpo da mulher passou a ser mais público do que nunca. Todos se veem no direito de dar opinião, serem cruéis e interferirem o tempo todo. Se está muito magra não está bom, se está muito gorda ou sarada, também não”, analisa Flavia, acrescentando que estamos vendo muito essa pressão estética em detrimento da saúde nesses tempos de pandemia com tantas piadas com ganho de peso na quarentena. “Se sua maior preocupação são os ‘quilinhos a mais’ e não a sua vida é preciso rever os seus conceitos e suas prioridades.”

Para ajudar nessa construção diária que é lidar melhor com nós mesmas, Flavia tenta evitar influencers com discurso vazio ou que só incentivam o consumo desenfreado ou que se apropriam de temas em voga para ganhar likes e views. Quem ela gosta de seguir? “Adoro acompanhar os looks da @modaemrodas, acho ela chiquérrima. Adoro as makes e os vlogs da @_nicduarte. Amo os lookinhos e a baby face da @genizeribeiro. Sou fascinada pelo swag do @keenzao. E me inspiro em várias makes da @mulhertrans.” ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

Como mantra, ela invoca uma frase do ator e drag queen RuPaul: “O que os outros pensam de mim não é da minha conta”. E complementa: “Familiares também podem ser bem tóxicos, os problemas de autoestima muitas vezes começam na infância. Mas não absorva as neuroses dos outros. Aproxime-se de quem se parece mais com você. A internet é a gente quem faz, já que ainda não nos vemos na mídia, vamos nos cercar de quem faz bem pra gente”. Mais #ainternetqueagentequer impossível, né?

Se eu quero provar o meu valor, eu vou para internet

Em uma cultura de espetáculo como a nossa, a imagem é um capital, e o corpo é a plataforma de investimento por excelência: você deve gastar tempo e dinheiro nele. Se não consegue, vai sofrer uma avaliação moral negativa, podendo ser chamado de desleixado, preguiçoso. Quem faz essa introdução é a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Estudos de Doenças da Beleza, e uma das maiores especialistas nesse assunto no Brasil. Nossa sociedade valoriza tanto a imagem que, se ficamos em dúvida (ou em dívida) com nós mesmos, acabamos usando o outro como espelho. “Se eu quero provar o meu valor, vou para a internet. E legitimo quem eu sou a partir das curtidas da minha rede.”

Fica cada vez mais fácil fazer isso quando temos à disposição tantos apps de edição de imagem e filtros. Conviver com um defeito se torna quase coisa do passado. “De um lado estou recebendo uma mensagem que diz que sou linda de qualquer jeito, por outro sou inundada com spam, anúncio, propaganda dizendo que não preciso conviver com essa gordurinha, que parcelando em 12 vezes me livro dela. O que está em pauta é a escolha de poder ostentar a aparência que eu quiser ou a do que vou consumir com meu corpo?”, questiona Joana.

Nos encontramos entre esse duelo de mensagens. Encarando o espelho, tentando ter uma boa relação com o que vemos. A internet vira a praça pública, onde dividimos nossos processos. E talvez, em certa medida, essa partilha nos ajude a ficar mais confortáveis na nossa própria pele. “Em tempos de tanto ensimesmamento e egoísmo, um uso bem feito da rede pode ser um ótimo ativador da empatia, compaixão, solidariedade, consciência. Tô sofrendo, mas não tô sozinha, posso oferecer um espaço de escuta, ouvir outras histórias. Quando o sujeito se disponibiliza para o outro, subverte a lógica narcísica. Gosto da internet para fazer laços.”

Como você lida com a dinâmica de recompensa na internet? A quantidade de likes e comentários que recebe influencia na imagem que você tem de si?

Filtro da gentileza

“Eu prometo ser mais amável comigo todos os dias”

Como se sentir mais confortável na própria pele em meio a tantos estímulos na internet? A resposta não é definitiva, mas com certeza ela passa pelo se enxergar com mais carinho e menos cobrança. Se quando olhamos uma foto de alguém que amamos não ficamos procurando defeitos, por que quando a foto é nossa, cada centímetro é analisado? E mais: se aprendemos que a comparação excessiva com outros corpos não nos faz bem, como podemos mudar de estratégia?

Propomos aplicar em você o filtro da gentileza, confira a seguir algumas ideias para uma relação mais saudável e gentil com seu corpo – e consequentemente com todos os demais aspectos da vida.

1- Filtro de perfis:
Vou deixar de seguir contas que tentam vender produtos com seus corpos, e vou acompanhar contas que promovam uma vida saudável, mais diversa e confiável;

2- Se olhando com amor:
Vou deixar de falar negativamente sobre o meu corpo, online e off-line, para começar a escrever um diário das minhas qualidades;

3- Menos comparações:
Vou parar de usar o corpo de pessoas estranhas como parâmetros para o meu;

4- Por conexões reais:
Vou deixar de passar horas rolando o feed vendo corpos irreais, por uma boa roda de conversa com as amigas.

Já pratica alguma dessas propostas? Sentiu falta de alguma coisa? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀

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