Instagram, você é tão delicioso! Não é à toa que a maioria de nós é viciada nesse app. Mas estar por lá não é só um mar de rosas. Para conseguirmos trabalhar melhor as nossas emoções mais complexas, dar um nome para elas pode ajudar. Por isso tentamos nomear alguns dos efeitos colaterais que nos atormentam, para aí então tentar buscarmos um antídoto para eles.
Não sabemos como é para vocês por aí, mas, por mais que a gente tenha uma super atenção em que tipo de conteúdo vamos seguir, em dar unfollow ou silenciar o que nos faz mal, no fim não adianta muito. Observar o feed e os stories do Instagram é sempre nos deparar com um grande cardápio de sentimentos. Quase como uma roleta russa de emoções. Quando você decide abrir o app, não sabe muito bem o que vai acontecer depois ou como vai receber as informações que estão ali. Como tudo é mais complexo do que o bom X o ruim, a informação que te traz ansiedade, te faz se comparar com o outro ou experimentar qualquer outro sentimento mais turvo pode vir até mesmo do perfil que você mais ama. Se em algum momento podemos acabar sentindo tudo isso, nos resta olhar pra dentro e entender quais costumam ser os gatilhos para esses sentimentos. Essas emoções nos oferecem o tempo inteiro informações valiosíssimas. Então em vez de tentarmos fugir disso, que tal fazermos o exercício de observar o que acontece com a gente enquanto navegamos? Isso nos ajuda a filtrar melhor o conteúdo, a refletir na hora de postar para tentar não causar o mesmo sentimento nos outros ou até a fazer algumas mudanças em nossas próprias vidas.
Qual ferramenta vocês mais usam para buscar inspiração? Para nós, nos últimos anos, o Instagram tem tido um papel fundamental. Fomos cuidando com tanto carinho de quem seguíamos por aqui que nossas timelines se tornaram irresistíveis. E foi por amar o conteúdo de quem seguimos que sentíamos que essa prática podia acabar nos sabotando de algumas formas. Explicamos: vamos supor que aparecia um desejo genuíno de estudar alguma coisa. Logo na sequência víamos por aqui todos os dias tantas dicas, leituras e referências incríveis que passamos a sentir a nossa atenção como a bolinha de um fliperama. Batendo de cá pra lá e com muita dificuldade de aterrissar. E também com toda a ansiedade que essa overdose de conteúdo traz: a sensação constante de não fazer o suficiente, saber o suficiente.
Como é por aí, você se identifica com o efeito colateral da mente fliperama? Você também sente que o Instagram tem grande impacto no desvio da sua atenção? Temos muito interesse em saber se já experimentou algo assim ou se encontrou uma forma de usar esse app que seja mais benéfica para sua saúde mental e para o seu tempo. Conta pra gente?
Esta semana estamos falando sobre alguns efeitos colaterais que sentimos ao usar esta querida rede. E um que identificamos com alguma frequência é a ansiedade que pode bater em querer compartilhar primeiro. Ela funciona assim: você vê ou lê alguma coisa que te impacta (um filme, um livro, matéria, documentário etc). Nesse momento a ansiedade já chega – preciso compartilhar primeiro. Ao decidir participar dessa competição intelectual velada, a velocidade é muito importante e com ela vem a ansiedade, com força total. Como disse o @brenodamatta em uma conversa que tivemos: “Muitas vezes sinto que as pessoas querem mais mostrar que viram aquela informação primeiro do que realmente absorver e trocar ideia sobre”.
Como antídoto para esse sentimento vale se lembrar o tempo todo de que a vida não é uma competição. Quando agimos por esse paradigma estamos pensando que só existe espaço para o número 1. Para o bem da nossa saúde mental, não devemos alimentar esse sentimento. Olhar as redes com o olhar da colaboração pode ser muito mais saudável. Temos experimentado também não compartilhar assim que bate o primeiro impulso, tentando ficar um pouco mais tempo com aquele conteúdo. Esse tempo para elaborar e vivenciar faz com que suas palavras tenham mais força. E você, se identifica com esse constante sentimento de competição? Como tem feito para trabalhar isso?
Estudos mostram que em média abrimos os nossos telefones mais de 50 vezes por dia (e aplicativos como o Moment podem te mostrar se você está dentro desta média). Acreditamos que essas checadas rápidas e aparentemente inofensivas são campeãs em sequestrar nossa presença (e energia). Vê se você se identifica: você está vivendo a sua vida – pode estar tranquilo em casa, com a família, no meio do trabalho ou até em um date. Por alguma razão, bate um mini tédio, uma mini falta do que fazer ou qualquer outra situação que leve a sua mão ao telefone. Um exemplo: seu date se levanta da mesa e vai até o banheiro. Nesse meio tempo você pega o telefone, abre o Instagram, Twitter, Whatsapp ou qualquer outra rede rapidinho e, de repente, sua energia que estava na vibração do encontro pode ser invadida, por exemplo, por uma onda de raiva pela momento político que vivemos. Seu date volta, seu telefone volta pro bolso, mas sua energia, infelizmente, não volta com tanta facilidade. Não é que a gente deva evitar esses sentimentos mais conturbados, mas o que temos pensado é que pra tudo tem hora.
Você se identifica com esses momentos de sequestro de presença? Para evitá-los, temos tentado ter mais controle do nosso uso e evitado usar o telefone em momentos em que queremos viver com atenção plena. Por mais inofensiva que pareça ser aquela olhadinha, ela pode te sequestrar. Preserve sua energia.
Já falamos um pouco sobre como o formato das redes sociais acabam moldando nossa criatividade: com o tempo vamos aprendendo a pensar em forma de post, de stories, de vídeo ou de qualquer outro formato da sua rede de preferência. Mas não é só a arquitetura das redes que faz isso com a gente, os algoritmos também. Percebemos que, quanto mais ativos somos, mais somos recompensados com audiência. E aí, meio sem pensar muito, passamos a sentir uma cobrança para sermos cada vez mais produtivos. Muitos trabalham com isso, aí a mudança de hábitos se torna um pouco mais difícil (mas não impossível). Outros sentem a pressão mesmo sem enxergar nenhum fim comercial naquilo – a não ser, é claro, o capital social que as redes nos proporcionam. Temos pensado que um dos antídotos para esta questão pode ser o ato de expandir a mente e a criatividade. Podemos ampliar a nossa consciência de que o campo criativo é muito maior do que o Instagram: você pode e tem toda a capacidade para criar uma música, pintar um quadro, começar a bordar, se aventurar na cozinha, escrever um filme ou um livro. Se expressar criativamente é uma dádiva que traz inúmeras alegrias para quem a pratica. Para muitas dessas expressões artísticas, você vai precisar dedicar seu tempo – tempo que você pode estar usando simplesmente para ter um post novo com frequência no Instagram. Quando sentir a pressão constante para criar conteúdo para esta rede, pense de onde ela nasce: de algum lugar realmente benéfico para você (e para toda a sociedade) ou ela vem do automático, do medo de ser esquecido, da competição? Se a resposta estiver mais perto da segunda opção, lembre-se da imagem do burrinho amarrado na cadeira de plástico. Você mesmo pode se libertar, é só começar.