Recebemos uma mensagem de uma seguidora que pedia: vocês podem legendar os stories? Ela é uma pessoa com deficiência auditiva, adora Instagram e acaba encontrando essa barreira. Recentemente, outra seguidora compartilhou um vídeo com dicas para criar uma comunicação mais inclusiva. E nós fomos conversar com ela. A Isa Meirelles é relações públicas de formação e “uma fura bolhas por natureza”. “Porque me asusta a perspectiva de viver nos limites de um único ponto de vista.”
Em seu perfil (@isa.meirelles) ela cria e divulga conteúdo digital inclusivo. “Percebi que não estava preparada para me comunicar ativamente com uma amiga surda, porque não sabia a língua de sinais. A partir daí, comecei a buscar mais informações, usei as mídias sociais para me conectar com pessoas com deficiências diversas e encontrar novas formas de comunicação capazes de incluir a diversidade humana.” Com mais de 22 mil seguidores, ela, que tem uma deficiência visual (visão apenas do olho direito), confessa: “Achava que a internet era o lugar de quem queria aparecer e expor até o dia que descobri seu potencial de conectar pessoas e viabilizar que mais vozes fossem ouvidas.”
O que é importante ter em mente na hora de criar um conteúdo inclusivo? Ela responde: “Quando falamos em conteúdo inclusivo estamos pensando na diversidade humana, não apenas nas pessoas com deficiência. Grande parte de pessoas por trás da criação, redatores, designers, publicitários, social media, se comunicam com um público restrito, homogêneo, não levando em consideração as diferentes formas de corpos e sua interação com as informações. As deficiências são muito diversas entre si. As barreiras de comunicação de uma pessoa cega são totalmente diferentes das enfrentadas pelas pessoas surdas, que também não são as mesmas de quem possui autismo. Se eu pudesse dar uma única dica para quem deseja tornar o conteúdo mais diverso e inclusivo é: explore mais sentidos humanos na comunicação, combinando mais de uma plataforma e de linguagem. O resultado pode ser surpreendente e disruptivo.”
Qual é o básico sobre legendas, fontes, cores etc?
@isa.meirelles: “Costumo dizer que ‘Legenda Is The New Black’c elas são essenciais para pessoas com deficiência auditiva, com autismo e com dislexia poderem acessar o conteúdo, mas também são estratégicas para engajamento de posts em vídeos nas mídias sociais. O ideal é legendar todos os vídeos, inclusive stories do Instagram (uma mídia que usamos cada vez mais) e já tem apps fazendo isso de forma automática, como o Autocap para Android e Clipomatic para IOS.
Outro pensamento que precisamos ter em mente é que há pessoas que não percebem todas as cores, como pessoas daltônicas. Então, é importante não sinalizar uma informação importantes somente através das cores, sempre unindo símbolos e fontes em itálico, por exemplo.
Falando em fontes, apesar de existir uma grande variedade, para sermos inclusivos precisamos priorizar as fontes sem serifa, que facilitam muito a vida de pessoas com baixa visão! Além do uso de fontes grandes e que contrastem com o fundo (lembra daquele slide com fonte azul marinho e fundo roxo impossível de enxergar?).”
Quando o assunto é inclusão digital, o que é importante para criarmos a #ainternetqueagentequer que exista?
@isa.meirelles: “A gente precisa conectar quem ainda está desconectado, e tem muuuita gente que não tá online por diversos motivos: socioeconômicos, geográficos, atitudinais, comunicacionais, tecnológicos, para citar alguns”, diz a @isa.meirelles. “E eu coloquei como meta de vida reduzir as barreiras de comunicação da internet, influenciando cada vez mais pessoas a compreenderem o impacto que a atitude de cada um tem na promoção da inclusão digital.”
Indica perfis de PCDs que te ajudam a ampliar visão de mundo?
@isa.meirelles: “Todas as pessoas com deficiência que conheço atualmente foram conectadas através das mídias sociais. Por isso, defendo tanto a internet como espaço de encontros e infinitas possibilidades de expandir a perspectivas de vida. Alguns perfis de pessoas com deficiência que fazem toda a diferença na expansão da nossa visão de mundo são: a Heloísa Rocha do @modaemrodas, uma jornalista que possui osteogênese imperfeita e compartilha looks, incentivando outras pessoas cadeirantes e com nanismo a utilizarem a moda para se empoderarem.
Tem o canal do YouTube da Mariana Torquato @marianatorquato, considerado o maior canal de deficiêcia do Brasil. A Mari fala sobre representatividades, empoderamento e polêmicas do mundo PCD com um tom de diversão e brincadeira. Ela é crítica e debochada e tem a capacidade de fazer a gente rir de nós mesmos!
Tem também o Léo Castilho (@leocastilho), ele é um artista e performer surdo que compartilha vários vídeos com dicas e curiosidades sobre a comunidade surda!
Perfis de pessoas cegas é mais difícil de encontrar porque infelizmente elas se deparam com muitas barreiras para acessar as mídias sociais. Deixo a recomendação da Nathalia Santos (@nathaliasantos), jornalista e youtuber do #ComoAssimCega?, que compartilha muito do seu dia a dia como mulher cega.”